Terça-feira, 20 de Julho de 2010

Empresário de Cerva fez história no Brasil

         Em 1763 Salvador deixa de ser capital do Brasil, a província da Bahia, é a primeira a desenvolver a sua própria actividade editorial.

         Manuel António da Silva, nascido no ano de 1761 em Cerva, (Serva à maneira de alguns documentos antigos) comerciante, e tal como muitos outros daqueles tempos, emigrou para o Brasil, nomeadamente para Salvador, Brasil, no ano de 1797. Aí começou a vender móveis cristais e livros importados da Europa.

         Quando o Príncipe Regente a caminho do Rio em 1808, onde tinha a sua Residência Real, fez uma visita inesperada a Salvador, as forças locais empenharam-se ao máximo para persuadi-lo a permanecer na cidade, mas não o conseguindo mesmo assim, ficaram atentas ao desenrolar dos acontecimentos.

Observaram que um dos primeiros resultados da chegada da Côrte foi a organização da Imprensa do Governo. Imediatamente o livreiro, Manuel António da Silva Serva, tenta obter a permissão para ir a Inglaterra e adquirir um prelo (máquina tipográfica de imprimir manualmente) para a Bahia.

         Após uma pequena passagem por Lisboa, para contratar os artesãos necessários em 18 de Dezembro de 1810, apresentou ao governador Conde dos Arcos, que tinha sido nomeado em 30 de Outubro do mesmo ano, há pouco tempo, um pedido formal de autorização para começar a imprimir.

         Não confiando muito, e como não tinha provas de que já tivesse imprimido alguma coisa, pelo sim, pelo não, resolve partir para o Rio, pensando que lá poderia influenciar no resultado do seu requerimento, e ao mesmo tempo não perdeu a oportunidade de fazer alguns negócios aí durante a sua permanência, pois publica uma “Notícia do catálogo de livros que se achão á venda em casa de Manuel António Silva Serva, na Rua de S. Pedro nº 17 o qual o faz por hum commodo preço {…} atendendo a demorar-se muito pouco tempo nesta Côrte”.

        Esta lista deve ser o catálogo mais antigo de uma livraria brasileira, com mais de setecentos itens, ordenada por títulos. Os preços mais comuns eram $480, $560, $960 por volume (devido ao facto de as moedas da época serem múltiplos de quarenta réis). Exemplos: “Curso de Matemática por Belindoso. Com estampas, 4 volumes; Constituição da Hespanha; Exame de Bombeiros. Com estampas; Compendio d’Agricultura, 5 volumes; e o mais caro, Dicionário Italiano e Portugeuz, 2 volumes 16$000”.

Se assim foi, estava certo: A carta régia que instruía o governador a aprovar a sua petição foi publicada a 5 de Fevereiro de 1811, três meses depois.

Voltando à Bahia, nos Princípios de Abril de 1811, Serva começou imediatamente a trabalhar, produzindo as suas primeiras edições em 14 de Maio:

Um prospecto de quatro páginas para um jornal, um “Plano para o Estabelecimento de huma Biblioteca Publica na Cidade de S. Salvador” (em quatro páginas) e um impresso em onze páginas, “a Oração Gratulatoria do Príncipe Regente” de Inácio José Macedo.

         Os projectos de um jornal e de uma biblioteca pública eram, ambos, claras tentativas de competir com o Rio de Janeiro, e os dois foram realizados pouco depois. A biblioteca, inspirada pela inauguração da Biblioteca Real Portuguesa, no Rio em 27 de Julho de 1810, deveu-se muito ao interesse do Conde dos Arcos.

Livro editado por Manuel António da Silva Serva.j

          Para aprovar as publicações de Serva, o Governo Provincial criou uma Comissão de Censura, formada por cinco membros, dois dos quais deviam ser clérigos. Essa comissão funcionou até 1821. O número de empregados da oficina – o impressor chefe Marcelino José, o revisor de provas Bento José Gonçalves Serva, seis aprendizes de composição (meninos entre 12 e 15 anos), quatro impressores e um encadernador, já com dois prelos. A sua tipografia era maior do que um mercado de tamanho tão limitado poderia justificar: o catálogo que publicou em 1812 não exigiu uma tiragem superior a cem exemplares.

          Durante o seu primeiro ano teve a ideia também de fabricar prelos em madeira de pau-brasil e exporta-los para Inglaterra, onde se trocaria por suprimentos de papel e outros equipamentos. Mas o pau-brasil era monopólio da Coroa. Entretanto aparece o prelo de ferro, mas o seu custo era elevado, de cerca de 90 libras. No ano de 1815 foi-lhe concedido um empréstimo (quatro contos de réis pagáveis em dez anos). O governo também lhe prestou auxílio quando lhe confiscou um prelo concorrente que fora importado em 1810, pela firma Barroso, Martins Dourado e Carvalho. O Embaixador Português em Londres havia relatado que esta aquisição fora uma iniciativa secreta do próprio Hipólito da Costa, mas é possível que esta tenha servido apenas de agente comercial, pois no jornal que fundara untuosamente intitulado “Gazeta da Bahia, Idade de Ouro”, seus redactores, o português Diogo Soares da Silva de Bivar e o padre Inácio José Miranda, assumiram perante as autoridades uma lealdade quase servil.

       Serva, um homem “alto, gordo, rosto redondo trigueiro e bastante barba”, num esforço para ampliar seu mercado, nomeou seu conterrâneo, Manuel Joaquim da Silva Porto, seu agente no Rio, para vender suas publicações. Alem disso, fez várias viagens à capital do império para obter encomendas. Como os preços cobrados pela impressão Régia eram escandalosamente altos, tornava-se fácil conseguir tais encomendas. Assim, ele foi o primeiro concorrente da gráfica do Governo, visto que, antes de 1821, os concorrentes do Rio eram proibidos de trabalhar.

        Durante a quarta dessas viagens para o Rio, Silva Serva morreu, em 3 de Agosto de 1819. Dois meses antes, tinha admitido como sócio seu genro, José Teixeira e Carvalho, de modo que a firma continuou como “Typografia da Viúva Serva e Carvalho”. Mais tarde, em 1819, o seu único filho (também Manuel) começou a trabalhar na firma. Nesta altura a situação da firma estava boa, devido pois a aprovação pela censura, de alguns livros. Veio a público somente em 1817, que os dois prelos estavam tão sobrecarregados de trabalho que foram precisos dois anos para desobrigar-se das tarefas.

         A editora de Silva Serva sobreviveu até 1846, mas perdeu a sua posição de monopólio em 1823. Durante a luta pela independência em 21 de Agosto de 1822, a junta pró-Portugal passou a governar em Salvador, e invadiu as suas instalações para interromper a impressão do jornal nacionalista, o Constitucional. Seus editores fugiram para Cachoeira, onde instalaram a sua própria gráfica e imprimiram sua continuação, o semanário O independente Constitucional. Nesse ínterim, a tipografia de Serva continuou a produzir a sua Gazeta da Bahia, pró-Portugal. Quando a causa nacionalista triunfou, a 24 de Junho de 1823, não só apenas a Gazeta da Bahia teve de interromper a sua publicação mas também a Tipografia acompanhou as forças brasileiras vitoriosas de volta à capital provincial.

         A produção conhecida da editora de Silva Serva, durante a sua vida somou cerca de 176 títulos publicados.

Com a morte de Silva Serva, Salvador perdeu muito do seu interesse como centro editorial.

publicado por Abraão Mendes às 18:39
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